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Como lodo de esgoto se transforma em fertilizante natural usado por produtores rurais no estado de SP


Como compostagem transforma esgoto em fertilizante usado por produtores rurais em SP

Um fertilizante orgânico feito com lodo de esgoto do aterro de lixo de Paulínia (SP) é usado em plantações de produtores rurais de nove cidades das regiões de Campinas (SP) e Piracicaba (SP).

O fertilizante é obtido a partir de uma técnica de compostagem que aproveita os dejetos do aterro da cidade e os une à madeira de carvalho fragmentada.

➡️ O lodo é um resíduo rico em matéria orgânica produzido durante o processo de tratamento do esgoto. Normalmente, o componente é descartado em aterros sanitários, onde se junta a todo tipo de lixo. Além dos problemas ambientais, o descarte também é caro para as estações de tratamento.

A produtora rural Mariangêla Storani tem plantações de café orgânico em Vinhedo (SP) e Jundiaí (SP) e não usa adubo químico há oito anos. O uso do fertilizante de lodo tem gerado resultado positivo, segundo ela.

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"Eu fiz a análise de terra há um mês, no Instituto Agronômico de Campinas, e mesmo sem usar adubo químico nenhum, a minha terra está bem saudável, e os pés produziram bem", explica a produtora.

Produtores rurais usam fertilizante a partir de lodo de esgoto tratado no aterro de Paulínia (SP)

Mariangêla Storani

O Ecoparque de Paulínia, estação que produz o fertilizante dentro do aterro da cidade, aponta que 113 agricultores de 40 cidades no estado de São Paulo usam o produto em larga escala. Entre elas, as nove da região:

Artur Nogueira

Campinas

Capivari

Cosmópolis

Indaiatuba

Limeira

Louveira

Valinhos

Vinhedo

Produtores rurais usam fertilizante a partir de lodo de esgoto tratado no aterro de Paulínia

Divulgação/Orizon

A tecnologia de transformar lodo de tratamento de esgoto em fertilizante orgânico já foi alvo de pesquisas. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) mostrou que o processo de secagem do resíduo aumentava a vida útil dos aterros sanitários.

Rafael de Farias Nascimento, especialista em compostagem na Orizon Valorização de Resíduos, companhia que produz o fertilizante no Ecoparque, defende que, além de atender produtores de orgânicos, o insumo gera economia cíclica, já que os dejetos são reutilizados e voltam a ser nutrientes.

"A gente consegue finalizar um ciclo. O que foi uma planta um dia volta a ser um nutriente através de um fertilizante. A gente consegue fechar exatamente aquele ciclo produtivo do nutriente", explica Rafael.

Como o fertilizante é feito?

Apesar de levar o mesmo nome, a compostagem usada na fabricação do fertilizante é mais complexa que a praticada por quem possui composteiras em casa, já que esse segundo processo é puramente biológico e forma um adubo a partir da reciclagem matéria orgânica, como restos de alimentos.

🚯 Na compostagem para criar a fertilização, a massa do lodo passa por uma homogeneização e é misturada com outra matéria-prima, o carvalho, e em seguida, é deixada descansando sob exposição do oxigênio.

"Eu tenho dutos que sopra ar lá dentro [onde está o lodo]. É esse ar que vai suprir o oxigênio desses micro-organismos, e então, durante um período entre 30, 40, às vezes até 60 dias. O padrão é 45 dias. A massa fica parada, é onde acontece a compostagem. É um processo natural, o que a gente faz é acelerar", explica o especialista em compostagem.

O especialista explica que a produção do fertilizante também passa por descontaminação em que o lodo é exposto a temperaturas de até 80 °C. "O lodo vem da estação de tratamento, e já vem um pouco tratado. Quando chega aqui, ele é higienizado pelo processo térmico", diz.

"Nessa temperatura, todos os patógenos, ovos de helmintos [vermes], todos os que fazem doença para o ser humano, eles são praticamente zerados. Então, todo o lodo, todo o produto final, ele é higienizado", garante.

Produtores rurais usam fertilizante a partir de lodo de esgoto tratado no aterro de Paulínia

Divulgação/Orizon

"Então, por isso que, no final, a gente tem a certificação que é um fertilizante seguro de uso na agricultura, que ele é livre de qualquer doença, tanto de humanos, quanto para plantas também", explica.

Desconfiança inicial

Lodo gerado no tratamento de esgoto em Piracicaba é transformado em fertilizante

Segundo Nascimento, o uso de dejetos de suínos e galinhas como fertilizantes já era comum, então alguns produtores não olharam a ideia com estranheza, mas outros demonstraram receio com a proposta.

Ele garante, no entanto, que a conversa sobre os benefícios do fertilizante tem desmistificado. "O fertilizante pode ser utilizado em todo tipo de cultura: cultura de cana-de-açúcar, cultura de cítricos."

"O que mais utiliza o nosso fertilizante hoje é a cultura de cana-de-açúcar e a cultura de banana, que é uma cultura que utiliza muito o fertilizante orgânico, então, é o nosso maior mercado consumidor", explica.

Mariangêla Storani conta que pesquisou antes de fazer a primeira compra. Ela adotou a opção orgânica nos quatro alqueires com 40 mil pés de café em Vinhedo nos 150 mil em 10 alqueires em Jundiaí.

"Eu pesquisei bastante. Pensei que vai que contamina o fruto, e eu vou contaminar quem tá trabalhando. Mas eu olhei e vi que é muito seguro, não tem problema nenhum, não tem contaminação nenhuma. Tanto que ele nem cheiro tem", diz a produtora de café.

Além disso, ela sentiu uma diferença no gasto: usando o fertilizante orgânico vindo de dejetos, ela gastou cerca de R$ 8 mil reais em uma safra.

Com fertilizantes químicos, ela afirma que o gasto pode chegar até R$ 35 mil. "A diferença é R$ 215 a tonelada", finaliza.

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