Avanço das ferramentas de inteligência artificial aumenta riscos da exposição de imagens de crianças nas redes

O avanço da inteligência artificial aumentou muito os riscos da exposição de imagens de crianças nas redes sociais.

Para muita gente, a rede social virou um álbum de família. A Roberta dividia os momentos especiais da vida, num perfil fechado, com os amigos nas redes.

“Fui percebendo os riscos, então eu acho que os riscos eles vêm primeiramente como um alerta e um pouco dessa sensação de que eu não preciso compartilhar a minha vida com as pessoas. É minha vida, é a vida dos meus filhos, cabe a gente saber o que tá acontecendo", comenta Roberta Rapini, coordenadora pedagógica".

O perigo de expor fotos, principalmente dos filhos nas redes sociais, aumenta junto com o avanço da inteligência artificial. Qualquer foto que você publica na internet, nas redes sociais, pode cair nas mãos de pessoas mal-intencionadas.

Um registro de uma repórter do Jornal Nacional no trabalho, por exemplo, pode ser alterado. Bastam alguns comandos num dos muitos programas de inteligência artificial disponíveis na internet para transformar uma imagem. Podem ser mudanças simples, como incluir acessórios ou mudar a roupa dela - ou até trocar totalmente o cenário da foto.

Só que, na maioria das vezes, as imagens falsas expõem a pessoa a situações constrangedoras, humilhantes, devastadoras… E podem até alimentar uma rede de pedofilia.

“Com uma ferramenta como essa, você pode pegar só o rosto de uma criança, transmutar num corpo desnudo, botar em posições sexualizadas, e simplesmente parecer que é realmente uma imagem real", explica Fernando Ferreira, pesquisador do NetLab.

Os aplicativos mais conhecidos de IA até têm alguns filtros e proíbem fake nudes, ou nudes falsos. Mas existem muitas ferramentas onde tudo é permitido.

Os aplicativos mais conhecidos de IA até têm alguns filtros e proíbem fake nudes, ou nudes falsos. Mas existem muitas ferramentas onde tudo é permitido.

Jornal Nacional

“Não existe uma regulação específica sobre o que o modelo pode ou não fazer. A gente não tem essas regras. E esses modelos têm as versões pagas, mas tem milhares de modelos gratuitos que você consegue encontrar facilmente na internet", destaca Ferreira.

A juíza da Infância e Juventude do Rio, Vanessa Cavalieri, alerta que o crime vai além de adulterar uma foto…

“A produção de qualquer imagem pornográfica ou explícita envolvendo menores de 18 anos é crime. Produzir a imagem, por exemplo, fotografar, filmar ou manipular para produzir uma nudez; ou só receber e não apagar, deixar aquilo arquivado na conversa ou armazenado no álbum de fotos do celular já configura crime; ou receber e repassar para outra pessoa, ainda que depois seja apagado, esse compartilhamento também é crime. São três condutas criminosas", diz Vanessa Cavalieri, juíza da Vara da Infância e Juventude do Rio.

A Julia, de dez anos, ainda prefere desenhar no papel a ficar na tela do celular. A mãe usa a rede com muita moderação e conversa sempre com a filha sobre os riscos.

“A base de tudo está na conversa. Em primeiro lugar, a conversa, seguido do exemplo. Não adianta também a gente falar o que deve ser feito e não fazer", comenta a professora Michele Moura.

“Mesmo que o perfil da pessoa que está fazendo essa divulgação, postando a foto dessa criança, seja um perfil fechado, ela vai ter ali, sei lá, 400 seguidores, 500 seguidores. Não é como se mostrasse a foto para 500 pessoas, é como se entregasse uma cópia da foto para cada uma dessas pessoas poder fazer o que quiser com ela. Então não é seguro.”